Daquilo que não se nomeia

Já repararam que existem coisas/assuntos/doenças/pessoas que as pessoas não gostam de falar nem o nome? Tem gente que não fala “morte”, “azar” ou “câncer”, de jeito nenhum. Esse assunto renderia uma série de posts, com certeza bem densos e até doloridos. Sim, rendeRIA, pois não vai render. Se são coisas que não são agradáveis nem de dizer o nome, quanto mais de falar exaustiva e profundamente sobre?

Mas minha lista de inomeáveis é bem pequena, na verdade se resume a pessoas e situações que trazem más lembranças. Não tenho medinho de muita coisa, enfrento rato, barata, morcego e doença sem pensar duas vezes. E exatamente por isso, preciso falar.

Esta semana que passou foi dura. Passei por um aperto sobre o qual não posso falar, pois não quero que chegue aos ouvidos dos meus velhinhos. Mas foi tão baqueante que fiquei dois dias inteirinhos sem sair de casa, com a sensação de que a coisa iria se repetir, e… meu fígado reclamou: fui parar no pronto atendimento, enjoada como se estivesse grávida, arrotando azedo, toda ruim. O corpo sente e põe pra fora. A Dra. Acupunturista se assustou com o estado da minha língua (que reflete o resto do corpo).

Além disso tudo, no universo externo às minhas mazelas, nos últimos tempos perdi indiretamente várias pessoas. Um foi Eduardo Massami, que nem conheci, mas ouvi amigos queridos falarem tanto [e tão bem] dele que senti como se fosse mesmo um amigo meu que partisse. Outro nome japonês que sempre ouvi falar com apreço e admiração foi Tadashi Koshima, amigo de Marido, desde muitos anos, e que partiu cerca de um mês depois do melhor amigo [e patrão] dele, Martial Câmara. E hoje acabamos de voltar do velório de mais um amigo dele, Domingão.

Sabe o que tudo isso me diz? Me diz que a vida é breve, um sopro, como já dizia o sábio Salomão. E que tem épocas em que a morte ronda a gente como… não sei que figura usar, mas ronda. E a gente fica com medo, não de morrer, mas de perder quem a gente ama. E Marido resolveu brincar com isso, deixando a pressão subir e anunciando que “não passava dessa noite”, pedindo o último beijo, ao melhor estilo Drama King. E estou usando este espaço pra dizer que não gostei.

Não gostei de sentir a morte perto, não gostei de pensar que posso perder quem amo, não gostei da brincadeira. Mas apesar de não gostar, não posso fazer nada, né? Só torcer pra morrer antes dele. #ProntoFalei.

Uma resposta

  1. Bel, eu sei exatamente como é isso, a morte, infelizmente, tbm tem me rondado, é tão triste, a gente se sente tão impotente e tão desesperançada, sabe? Não sei o que te dizer pra vc melhorar, vc sabe que tô pior do que vc, só que, se precisar desabafar, eu tô aqui.

    Bjo bjo

  2. Paradoxo dos viventes: a perspectiva da morte é o que confere sabor à vida – eternidade seria deveras enfadonha.
    Ela tá sempre por aí nos rondando. Se nos pega num campo de batalha ou no caminho do mercado é somente uma questão de probabilidades…
    …Não tem Samara que nos acolha.
    De qualquer jeito, parece-me que a negação é a pior forma de lidarmos com essa Senhora.
    No mais: Música, maestro.

  3. Oi amiga, estava sem rede estes dias e sem telefone e ai encontro este teu desabafo. Desabafar faz bem…

    Lembra que estava sentindo algumas coisas na semana passada em relacao a você?
    Acredito amiga que nao foi pior porque oramos por vc todas as noites e acredito que Deus segurou a maos de vcs nestes momentos.
    Dê noticias por email.
    E nada de desejar ir primeiro. Deus sabe o que tem para cada um de nós.

    “Reprime atua voz de choro…lembra?

    Um grande beijo

  4. Minha mãe é cheia dessas coisas impronunciáveis…. já eu, falo tudo. Até esse negócio de morte. Dor merece respeito, mas enquanto a gente tá vivo, é melhor brincar do que sofrer. Manda meu abraço pro Mascarenhas. Tô com ele nessa… 😉
    bjao procê!

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