“Dia D” de Drummond

31 de outubro é o dia do aniversário do poeta Carlos Drummond de Andrade. E é também o dia da Reforma Protestante. São duas datas bem mais importantes na minha vida do que o tal do Dia das Bruxas, que não tem nada a ver comigo nem com a cultura da minha terra. Mas isso é um papo comprido, que vai ficar pra outra hora.

O site oficial do Poeta que, se estivesse vivo, hoje comemoraria 109 anos, sugere que comemoremos o Dia D como um dia “para apagar a guerra e saudar a liberdade, a imaginação, a aliança entre os homens de boa palavra.”

Drummond Bel

Drummond Cau

Rio, maio, 2010.

E nessa comemoração, há a sugestão de que cada pessoa [que quiser] grave um poema de Drummond e envie pro site. Assim fizemos, eu e Marido: Ele leu “Poema de Sete Faces” e eu “Diante das Fotos de Evandro Teixeira”, que foi a epígrafe da minha Dissertação de Mestrado. Confiram:

Ainda no ritmo de comemoração, vai um dos “Clássicos Republicados”, texto que escrevi em 2006, no auge do sofrimento de duas separações, logo após ter assistido o documentário “O Poeta das 7 faces” – que dei de presente a Marido em 2008 quando ele nem Namorado era ainda!!!

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Eu e Drummond

Tomo emprestadas de Drummond, “o poeta das 7 faces” algumas frases, invocando o direito de usá-las, pois ele mesmo diz que “a poesia é metade de quem escreve, metade de quem lê.”

Através de “um álbum de fotografias intoleráveis” quero mostrar algumas das minhas não-sei-quantas faces. Algumas escondidas há tanto tempo, (ou preservadas da vista do mundo) precisam ser redesenhadas mesmo dentro de mim.

A face de mulher que se sente rejeitada, entristecida e revoltada que já se pegou dizendo: “Meu Deus, por que me abandonaste, se sabes que não sou ateu?” “Saiu, fechou a porta. Ouvi seus passos na escada.Depois mais nada. Acabou.” “Minhas retinas tão fatigadas” e meus olhos sempre molhados, ao ponto de ser questionada: qual o prazer de chorar?

A face da mulher que, sozinha, vai se perguntar à noite: “Que barulho é esse na escada?” E, seja qual for a resposta, só a mim interessa. Se o barulho é “do bem”, a felicidade é clara. Se é o mal que se anuncia, o braço que se levanta é o meu, de mais ninguém.

A face de mulher-mãe, que se sente responsável, impotente e incapaz de cuidar e proteger àqueles a quem deu a vida, “meu verso melhor… ou único”.

A face da mulher forte, que levanta a cabeça em meio à tempestade da noite. “A noite (que) dissolve os homens, diz que é inútil sofrer.” E essa mulher enxuga as lágrimas, entende que se não consegue mudar o vento, deve então ajustar as velas do barco.

A face da mulher que abre a porta e recebe “um ramo de flores absurdas, mandadas por via postal (ao) pelo criador dos jardins”. E nelas, consegue enxergar que ainda existem cores, perfume e alegria em seu mundo! E tem pela frente “uma estrada de pó… e esperança”.

A face da mulher que “penetra surdamente no meio das palavras. Lá residem os versos que esperam ser escritos.” Mas não encontra versos, encontra somente as mesmas palavras de sempre, desordenadas, despoetizadas… Mas são essas palavras que dizem o que ela sente. E a visão “final” é essa: “tinha uma pedra no meio do caminho“… mas subi nela, pra conseguir enxergar mais longe!!!

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Não é muito mais legal do que Halloween??? Ah, leiam também o post-celebração de Marta, minha prima-irmã, com quem compartilho gostos musicais e poéticos… inclusive Drummond!